O Karate e o Cristão

Por Khatlyn Profeta

    Frequentemente sou questionada sobre a prática das artes marciais e sua compatibilidade com a minha fé cristã.

    Estive pensando sobre isso e cheguei a uma simples conclusão: o que você aprende pode ser filtrado e limitado ao entrar em sua mente.

    Há mais de 20 anos professo a fé cristã, e há quase um ano pratico caratê, uma arte marcial tradicional japonesa, desenvolvida através do aperfeiçoamento do okinawate uma arte tradicional da Ilha de Okinawa, na época da divulgação desta arte marcial vizinha do Japão, e hoje compõe o território do país.

    Por suas raízes, e por sua fixação no Japão, o karate, assim como a maioria das artes marciais do extremo oriente, tem sua filosofia influenciada nos costumes e cultura destes locais, baseando-se no autoconhecimento – principalmente da mente -, o respeito, a não violência e meditação.

    Filosofia à parte, e fora o culto aos mortos, uma arte marcial, assim como qualquer outra atividade cardiovascular, é extremamente benéfica ao corpo, e auxilia inclusive no equilíbrio da mente. Não porque seja a atuação da “energia” ou qualquer coisa assim, mas pela simples razão de que o corpo equilibrado com seus elementos químicos produz satisfação suficiente para a mente, que se acalma, a conhecida liberação de endorfina pelo exercício físico é o exemplo mais claro.

Mas então por qual razão existe todo aquele ritual de início e fim nos treinos?

Simples: disciplina e ordem trazem aperfeiçoamento.

Se numa sala de aula, quanto mais disciplina maior o aprendizado, ou se numa família, a disciplina imposta pelos pais contribui, inclusive, para o caráter dos filhos, não é outra a experiência vivida num treino.

Devemos lembrar ainda, que a cultura onde foi criada esta arte marcial, é uma cultura muito mais rígida que a maioria dos lares ocidentais, onde a hierarquia e o respeito se assemelham mais ao cotidiano militar, do que os jovens de hoje estão acostumados.

Desta forma, o respeito à ordem dentro do local de treino, o respeito à hierarquia das graduações, e acima de tudo à autoridade do mestre que repassa seu conhecimento, são as bases de qualquer aprendizado, e contra isso não há argumentos.

Existem algumas regras que devem ser seguidas antes de aprender simplesmente os golpes do karate:

  • Esforçar-se para a formação do caráter (formar uma personalidade de valor);
  • Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão (valorizar a honestidade);
  • Criar o intuito do esforço (intenção de se esforçar cada vez mais pelos seus objetivos);
  • Respeito acima de tudo (valorizar os bons costumes e obedecer seus superiores e as autoridades);
  • Conter o espírito de agressão (condenar a violência motivada pelo ímpeto).

 

Voltando ao ponto de vista intrinsecamente cristão, não há nenhum lugar na Bíblia que nos fale contra qualquer destas coisas.

Pelo contrário, em muitos trechos do texto bíblico, vemos ensinamentos referentes à obediência, disciplina, ordem e caráter.

Com uma ressalva ao cumprimento dedicado ao fundador do karate – que já está morto, e este ritual eu não pratico – não há uma prática que seja contrária aos ensinamentos bíblicos.

Entretanto, na cultura oriental o fato de se curvar não representa o culto, e sim uma mera reverência de respeito, da mesma forma com que os cumprimentos são feitos cotidianamente com esta postura corporal, mas há aqueles que como eu não se sentem à vontade em fazê-lo.

É claro que pra mim, assim como para a esmagadora maioria dos cristãos, a fé cristã não pode se misturar a nada que não esteja apoiado na Bíblia, base dos ensinamentos cristãos.

Contudo a nossa cultura, além dos ensinamentos judaico-cristãos, é ainda uma cultura ocidental, e muitas vezes para nós a prática dos costumes orientais estranha-nos, e não necessariamente aquilo que vemos nesta cultura tem fundamentos puramente religiosos, e é isso que devemos saber separar em nossas mentes e corações.

 

Mas para o caso daqueles que ainda não se convenceram pela minha superficial explanação, eu deixo este texto bíblico que minha mãe me ensinou a tomar como base das minhas decisões:

Colossenses 3:15 “Seja a paz de Cristo o árbitro nos vossos corações à qual também fostes chamados em um só corpo: e sede agradecidos.”

Em não havendo paz, e tranquilidade nas decisões, outro ensinamento da minha mãe: Na dúvida não ultrapasse.

 

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